Se você é cronicamente online ou acompanha a cultura pop pelo Twitter, TikTok ou Instagram, deve ter se deparado com o termo brat e essa cor verde por toda parte. Ele vem da cantora britânica Charli XCX, de 32 anos, que está na indústria há mais de 10 anos, mas teve seu ápice da fama viral agora, em 2024, com seu ‘‘Brat Summer’’. Charli é uma das minhas cantoras favoritas; acompanho ela desde 2013, e, apesar de ter algumas músicas que furaram a bolha e foram para o mainstream, estou meio chocado com a proporção que esse novo álbum dela tomou. A música Apple viralizou nas dancinhas do TikTok, um remix meio acerto de contas com a cantora Lorde foi lançado (Girl, So Confusing), e videoclipes com subcelebridades dos EUA foram feitos. Parece que tudo estava planejado para viralizar.
Para vocês terem uma ideia, um simples tweet da cantora, ‘‘Kamala is brat’’, ressignificou toda a campanha política para a presidência dos Estados Unidos, tornando o bordão uma das formas publicitárias e de marketing da Kamala Harris na corrida para a presidência. Esse acontecimento saiu até mesmo em vários sites de noticia brasileiras, como no O Globo: ‘‘Expressão que designa algo como 'pirralho' é adotada por campanha da vice-presidente dos EUA após viralizar nas redes; (…)’’. Risos!
Lena Dunham, atriz, roteirista e criadora do seriado Girls, lançou um ensaio para a The New Yorker, chamado ‘‘A guide to brat summer’’, que me inspirou a escrever esse texto.
Então, Jojoaaao, como ser um leitor BRAT?
Ser um leitor Brat é você ir a cafés caros, abrir um livro bem impressionante na mesa e fingir que está lendo para ser observado: ‘‘Uau, olha que pessoa misteriosa e culta lendo enquanto come um croissant de pistache’’.
Ser um leitor Brat é combinar uma leitura conjunta, mas desistir antes de começar, ou ler na frente do seu parceiro e terminar o livro primeiro que ele.
É ter uma Newsletter e se achar a Joan Didion de sua geração.
É ler Eu, Christiane F. - 13 anos, drogada e prostituída, e usar como a sua nova estética.
Ser um leitor Brat é ir pra balada carregando um livro. Vai que sobra um tempinho no fumódromo, né?
É comprar em livrarias físicas e ter uma ecobag da Gato sem Rabo.
É rejeitar Tolstói, Faulkner, Joyce e abraçar os romances hot ou os livros da Ali Hazewood.
Ser um leitor Brat é ter uma tatuagem de estilo realista duvidoso do rosto de Sylvia Plath na sua coxa.
É interromper uma aula de literatura para discutir com a professora e argumentar que a Sally Rooney é a escritora do milênio.
É gravar um TikTok aos prantos, enquanto faz um vlog lendo Uma vida pequena, da Hanya Yanagihara.
É encontrar uma autora não traduzida para o português no Goodreads e achar que ninguém conhece: ‘‘Imagino que você não conheça a Eve Babitz, ela é suuuper desconhecida mesmo!’’
É ler o livro de memórias da Cat Marnell e entender que é um manifesto anticapitalista e um guia de como viver intensamente.
Ser um leitor Brat é elogiar as capas internacionais da Clarice Lispector e desejar tê-las, pois é muito mais interessante ler a tradução da Clarice do que o original, né?
É surtar nos storys porque não consegue ler nada e está com uma ressaca literária.
É ter um Kindle, baixar mais de 10 livros no Z-Library e não ler nenhum.
É ter um pesadelo e acordar sobressaltado: ‘‘Acho que sou a reencarnação da Emily Brontë’’.
É entender que a saga Crepúsculo são clássicos da nossa época.
É tomar cuidado com o que escrevemos nos nossos diários por ter a fé que serão publicados no futuro.
Ser um leitor Brat é condenar a instituição do casamento, mas sonhar em se casar com um Mr. Darcy e viver em um romance da Jane Austen.
É brigar com sua melhor amiga para decidir quem é a melhor poeta, Plath ou Sexton.
É ir em mesas redondas em festivais literários, não conseguir prestar atenção em nada do que está sendo dito, pois você está focado demais na pergunta que mandou para a autora responder no palco.
É ter a certeza de que sabe tudo da Itália porque leu a tetralogia napolitana de Elena Ferrante.
É ter escrito fanfics no Wattped, como um prelúdio do seu grande Romance Americano — você mora em Araruna, no Paraná.
É criar um clube do livro e divulgar na faculdade: ‘‘Leitura é para todos!’’, e o encontro ser no café mais caro da cidade.
Ser um leitor Brat é ler de óculos escuros.
ser um leitor brat é pensar "vazou eu!!!" enquanto lê essa edição
when i go to the bookstore i wanna read those classics!!